Estamos ficando mais cinza e isso já tem sido percebido e até estudado. Carros, prédios, casas, interiores… tudo muito parecido, neutro, repetido. Essa pergunta já surgiu em workshops que conduzi: por que será que estamos escolhendo tanto o cinza e deixando de lado a cor?
Quero compartilhar minha visão sobre isso, trazendo também alguns estudos que ajudam a compreender esse movimento coletivo.
1. A falta de tempo para pensar no que faz sentido
Vejo que vivemos tão acelerados que não sobra espaço para refletir: o que realmente faz sentido para mim?
Na pressa, é natural escolher o que é mais fácil e óbvio. E aí o cinza aparece como solução prática, porque “combina com tudo” e evita decisões demoradas.
A neurociência explica: segundo Daniel Kahneman, psicólogo e Nobel de Economia, nosso cérebro tem dois sistemas de pensamento: um rápido e automático (Sistema 1) e outro mais lento e reflexivo (Sistema 2). O primeiro tende a dominar em situações de pressa — e é ele que nos leva ao caminho “mais fácil” e menos trabalhoso【Kahneman, Thinking, Fast and Slow, 2011】.
2. O desejo de pertencimento
Outro ponto é o pertencimento. Nós, seres humanos, queremos ser aceitos, queremos nos sentir parte.
Se o cinza virou moda, seguir esse caminho dá uma sensação de segurança. É como se fosse um refúgio, em que não corremos o risco de destoar.4
A psicologia social mostra isso claramente: o famoso experimento de conformidade de Asch (1951) revelou como as pessoas tendem a seguir a opinião do grupo, mesmo quando sabem que está errada, apenas para não se sentir excluídas. No design, acontece algo semelhante: seguimos padrões estéticos porque eles nos fazem sentir “incluídos”.
3. O cérebro busca o caminho mais curto
Nosso cérebro também é econômico: ele procura gastar menos energia sempre que possível.
Ambientes com cores, estampas e texturas exigem mais processamento cognitivo. Já os tons neutros pedem menos esforço.
Esther Sternberg, pesquisadora de neurociência aplicada ao ambiente, explica em Healing Spaces (2009) que estímulos visuais complexos podem tanto inspirar quanto sobrecarregar o sistema nervoso, dependendo do nosso nível de cansaço e estresse. Em um mundo já cheio de estímulos, talvez nosso inconsciente esteja escolhendo a neutralidade como uma forma de autoproteção.
O risco de viver em tons de cinza
Não tenho nada contra o cinza. Ele pode ser sofisticado e elegante.
O que me preocupa é quando essa neutralidade se torna regra e começa a apagar quem somos.
A cor tem um poder incrível: ela ativa o sistema límbico, responsável pelas emoções, e pode despertar memórias afetivas, estimular vitalidade ou trazer calma. Autores como Ingrid Fetell Lee, no livro Aesthetics of Joy (2018), mostram como cores vibrantes podem aumentar a sensação de alegria e pertencimento.
Quando penso em tudo isso, percebo que a questão não é apenas “por que estamos cada vez mais cinza?”.
A pergunta mais profunda é:
“Como podemos devolver cor, autenticidade e vitalidade para os nossos ambientes — e, ao mesmo tempo, para a nossa vida?”
E não precisa ser algo grandioso. Uma flor sobre a mesa, uma parede colorida, um objeto cheio de significado já podem transformar a energia de um espaço.
Porque devolver cor à casa é, no fundo, devolver alma para ela , e para nós também.